terça-feira, 22 de março de 2011

Palavras para a Minha Mãe

                      Ana Amélia Vermelho Letras, 1944-2011

Mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
  

quarta-feira, 2 de março de 2011

Numa reunião da Cooperativa Alentejana...

- Compadres, este ano vamos comprar uma máquina nova para apanhar azeitonas, que faz tudo sozinha, ela recolhe as azeitonas das árvores, separa as folhas e ramos partidos e até retira os caroços. Vamos aumentar imenso a nossa produtividade e poupar muito na mão-de-obra.
- Isso parece realmente muito bom, compadre, mas diga-me lá, essa máquina também faz SEXO?
- SEXO? Oh compadre, claro que nãoooo...
- Antão deixe-se lá dessas modernices, oh compadre, e mande vir as moças do ano passado!